ESTELITA, A OPORTUNIDADE ÚNICA

por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Esse é o problema. A oportunidade apareceu agora no redesenho do projeto Novo Recife.
Perdão, leitor, por abordar o mesmo tema pela terceira vez seguida aqui nesta Última Página. A justificativa é que não se trata de um assunto qualquer, mas de algo essencial para o futuro do Recife e da Ilha que a prefeitura passou a chamar de Antônio Vaz, resgatando o nome que tinha antes da chegada dos holandeses em 1635.
A ilha abriga os bairros de Santo Antônio, São José, Cabanga e Joana Bezerra e é “abraçada” em três dos seus quatro “lados” pelo Rio Cabibaribe. O quarto “lado” dá para a Bacia do Pina e, nele, situa-se, em toda a extensão do Cais José Estelita, o terreno do antigo pátio ferroviário que sempre impediu completamente a “chegada” do bairro de São José à frente de água do Pina, condenando-o a um isolamento mortal. A avenida Dantas Barreto, por exemplo, aberta na década de 1960, cortando literalmente em dois os bairros de Santo Antônio e São José, “esbarra” no muro do pátio e não chega ao Cais José Estelita.
Esse é o problema e, também, a oportunidade ímpar que apareceu agora no redesenho do projeto Novo Recife. De fato, depois que o pátio ferroviário foi desativado, o terreno leiloado, o projeto original questionado e o redesenho encaminhado, surge a oportunidade única de salvar Santo Antônio e São José dando-lhes passagem franca e inequívoca à Bacia do Pina, “drenando” o “empoçamento” urbanístico a que foram relegados pela “barragem” do pátio ferroviário hoje inativo. Como? Fazendo a Dantas Barreto seguir reta em frente e atingir o Cais.
Com isso, surge a oportunidade sem igual de transformar a avenida ociosa numa grande “sutura” articuladora de todas as áreas de grande valor histórico (Praça da República, Praça da Independência, Guararapes, Pátio do Carmo/Pátio de São Pedro, Estação Central/Casa da Cultura, Forte das Cinco Pontas, Praça Sérgio Loreto, dentre várias outras), separadas e desarticuladas pela própria abertura da avenida. Um verdadeiro “ovo de colombo” urbanístico que permite quase que por um passe de mágica transformar a Dantas Barreto num boulevard de categoria internacional que vai de uma frente de água (Praça da República) a outra (Bacia do Pina com uma nova praça final que pode muito bem ser a comemorativa dos 500 anos do Recife).
Meu apelo, pode-se dizer dramático, às partes envolvidas no debate instalado para aperfeiçoamento do projeto Novo Recife (Consórcio, Ocupe Estelita, Prefeitura) é esse: não vamos perder essa oportunidade, mais do que única, redentora (sem prejuízo, claro, de outros ajustes e dos direitos das partes). Fora dela, teremos perdido Santo Antônio e São José agora, sim, para sempre.
*Artigo publicado na edição 101 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br).

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