Governança e gestão são conceitos diferentes


O conceito de governança corporativa, antes restrito a grandes corporações (por isso, não por acaso, se chama “corporativa”), evoluiu e começa a se aproximar das empresas de médio porte. Daí, a importância de diferenciá-lo bem da gestão para evitar os mal entendidos decorrentes.
Grosso modo, pode-se afirmar que a governança diz respeito ao ambiente empresarial do presidente (ou executivo principal) “para cima” e a gestão diz respeito ao ambiente empresarial dele “para baixo”. Embora tenham teoricamente o objetivo comum do êxito empresarial, existe um conflito considerado “natural” que tecnicamente é chamado de “conflito de agência”. Ou seja, o conflito entre os interesses dos proprietários ou representantes do capital empresarial (sócios, acionistas, conselheiros), objeto da governança, e os interesses dos executivos (presidentes, CEOs, diretores, superintendentes) responsáveis pela gestão da empresa, os “agentes”
delegados dos sócios/acionistas para gerir a empresa.
Exemplos muito eloquentes desse conflito de interesses mal resolvido são os casos de empresas que entram em falência (acarretando perdas irreparáveis para os acionistas) com executivos (não acionistas) que saem enriquecidos pelos bônus auferidos por “bom desempenho” nos exercícios anteriores à quebra da empresa (casos clássicos da Eron e do Banco Lehman Brothers nos EUA e de outras empresas no Brasil). Essas e outras evidências reforçam o entendimento de que quem cuida da governança
não deve cuidar da gestão e vice-versa já que os agentes são diferentes e os interesses são conflitantes embora, em princípio, com o mesmo objetivo formal (o bem da empresa). Uma boa abordagem do tema depende de uma adequada concepção e de uma boa preparação, evitando modismos.
Quando, porém, numa empresa de menor porte, os sócios também respondem pela gestão, tratar da governança vai significar um investimento em criar, preventivamente, condições para crescer já em conformidade com os parâmetros de sustentabilidade de grandes empresas, particularmente em relação aos mecanismos e ferramentas de controle e de prestação de contas. Com cuidado redobrado, em especial em época de crise.
Dicas
1. Se a sua não é uma grande corporação e se ainda não tratou do tema da governança corporativa, comece a fazê-lo com calma e com segurança para não se deparar com mais problemas do que soluções.
2. Desconfie de quem propõe abordar o tema com soluções padronizadas, da “moda” ou importadas, tratando gestão e governança como se fossem uma coisa só ou, no mínimo, muito parecidas, objeto de uma mesma expertise. Nada mais perigoso.
3. Evite misturar os assuntos e as pessoas nos âmbitos da gestão e da governança, procurando traçar o plano de abordagem bem traçado para, então aí, começar a colocar em prática o que é necessário e possível em termos de aperfeiçoamento do planejamento e do controle da empresa.
O Gestão Mais é uma coluna da TGI na revista Algomais. Leia a publicação completa aqui: www.revistaalgomais.com.br

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