Uma empresa onde as atividades se encaixam com os talentos do profissional, os gestores são muito habilidosos em gestão de pessoas, os colegas têm temperamentos e gostos em comum, a comunicação e os processos funcionam e não existem problemas. E essa empresa ainda paga bem e fica perto de casa. Com frequência, profissionais, sobretudo os mais jovens, se lançam no mercado em busca de um emprego perfeito e da empresa perfeita, baseado em expectativas que nada têm a ver com o mundo corporativo real, como não ter imprevistos que atrapalham e atrasam a realização das entregas.
Contudo, uma vez que ingressam numa empresa, esses profissionais acabam se decepcionando, pois nenhuma organização é perfeita – todas têm problemas, sejam operacionais ou de gestão, que fazem parte do cotidiano. Muitos acontecimentos internos vão afetar o dia a dia de trabalho e o RH, por mais competente e habilidoso que seja, não conseguirá administrar frustrações dessa natureza.
Essa visão idealizada em relação às organizações e a dificuldade de ver que o mundo empresarial é bem diferente do da escola ou dos livros, pode levar o profissional a pedir demissão e logo depois se arrepender – “eu estava no paraíso e não sabia, nessa nova empresa a situação é bem mais difícil e complicada” será um pensamento recorrente. Ou, ainda, fazer com que o profissional fique em busca desse ideal de trabalho e não pare em empresa nenhuma.
O lugar “perfeito” pertence aos profissionais que se dispõem a fazer do seu ambiente e da empresa onde trabalham um lugar melhor, encontrando soluções para os problemas existentes. Se existem problemas internos, por que não buscar uma solução para eles, mesmo que não seja da sua alçada? Afinal, quem quer uma empresa “perfeita” tem que trabalhar muito e colocar a mão na massa.
O cenário de crise econômica e de dificuldade de se reinserir do mercado pode ser o que os profissionais com essa visão utópica do mundo empresarial estivem estavam precisando para se reposicionarem e aceitarem as “imperfeições” como parte do trabalho, agindo como protagonistas na construção de um ambiente organizacional melhor e mais próximo do desejado.
Só vale a pena mudar de empresa ou sair sem ter algo novo em vista, mesmo em diante de um mercado recessivo, quando a cultura, os valores e as práticas gerenciais ferem os princípios morais e éticos do profissional. No mais, o momento exige uma reflexão cautelosa para não entrar numa fria.
Georgina Santos
Sócia da TGI Consultoria em Gestão
*Artigo publicado no caderno Opinião da Folha de Pernambuco no dia 12.05.2016
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