“Governança corporativa não é um fim em si mesmo, mas uma rota, um caminho que é traçado estrategicamente considerando onde a organização se vê no futuro.” André Camargo, advogado paulista, coordenador do mestrado em Direito do Insper
Geralmente quando se fala em governança corporativa, a imagem que logo vem à cabeça da maioria das pessoas é coisa para grandes corporações, empresas com capital aberto e ações negociadas em bolsa. Na verdade, pode-se dizer, ao contrário e sem medo de errar, que toda empresa que já passou da “fase heroica”, em que o(s) fundador(es) empreende(m) e gerencia(m) diretamente o negócio, precisa de governança corporativa.
Imagine-se, por exemplo, um fundador que não tem herdeiro interessado em participar da gestão da empresa, mas não quer abrir mão da sua propriedade. Ou o caso de um negócio original que se desenvolve e passa para outra escala, exigindo que o empresário saia do dia a dia e se concentre nas questões estratégicas. Em ambas as situações, instala-se inevitavelmente a separação entre propriedade e gestão. São contratados profissionais para gerir o negócio com vistas a assegurar seu crescimento, bom desempenho e perpetuidade. Dessa separação entre proprietários do capital e gestores emerge um potencial de conflitos, os chamados “conflitos de agência” (quando os interesses dos proprietários e dos gestores se desalinham). Casos marcantes de conflitos de agência são os dos executivos que, durante a crise de 2008, viram quebrar importantes instituições financeiras dos EUA mas não deixaram de embolsar bônus milionários…
Para enfrentar esses conflitos da própria natureza da separação entre a gestão e a governança, a governança corporativa e seus preceitos consagrados é uma ferramenta essencial, possível e necessária para toda empresa que se profissionaliza. Governança deriva do termo governo e, de forma simplificada, pode-se dizer que governança corporativa é o conjunto de regras e processos que definem a maneira como a empresa será macrodirigida (governada), com vistas a procurar garantir que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado aos interesses dos proprietários e à sustentabilidade financeira, social e ambiental da empresa. E é, justamente, nos conselhos estratégicos (também chamados de conselho de administração ou correlatos) que essas regras e processos são pactuados e são monitorados seu cumprimento e o desempenho (operacional e financeiro) da empresa.
Mas, é preciso atenção redobrada para um ponto: governança corporativa não é uma solução mágica de modelo único para aplicação automática segundo um figurino preexistente para qualquer caso. Não é uma questão de moda ou status. Pelo contrário, faz-se necessário um intenso trabalho de adaptação, caso a caso, em especial no que diz respeito às empresas que não são grandes corporações. Sem isso, o risco de fracasso é alto e certo o aumento da resistência. Pelo bem da governança corporativa nas empresas médias que estão no caminho da profissionalização, é preciso ir além das soluções-padrão e customizar a abordagem com pés no chão. Comparando com a moda: é mais o caso de alta costura (feito sob medida) do que de prêt-à-porter (pronto para vestir).
O Gestão Mais é uma coluna da TGI na revista Algomais. Leia a publicação completa aqui: www.revistaalgomais.com.br