O risco político para a retomada econômica

“Ninguém mais ouve ninguém e cada um diz (e escreve!) o que lhe vem à cabeça, sem se preocupar minimamente com a manutenção das condições do diálogo.”

Sim, é certo que a retomada econômica pós-recessão já se iniciou e que, em alguma medida, ela está descolada da crise política. Porém não de todo.

Do ponto de vista econômico, existe ainda um importante obstáculo de ordem fiscal a ser removido no meio do caminho da retomada: um déficit orçamentário federal expressivo somado à necessidade de um superávit primário vultoso. Trata-se, no conjunto (um mais o outro), da necessidade de um ajuste fiscal de mais de R$ 300 bilhões, sem o qual o teto da dívida pública não se estabiliza e, por conseguinte, a credibilidade das contas nacionais perante o mercado e os credores (inclusive internacionais) fica comprometida, comprometendo, por sua vez, a retomada.

Embora esse seja um obstáculo de natureza econômica, para ser removido requer ação de natureza política, o que confere grande importância ao resultado da próxima eleição presidencial. Se tivermos o azar de eleger um presidente populista que não esteja comprometido com esse ajuste fiscal essencial, vamos ver a partir de 2019, novamente, o filme da deterioração das contas públicas, junto com a retomada da inflação e a da subsequente recessão para baixá-la. Um déjà vu totalmente desnecessário.

Um complicador para uma escolha sensata de alguém comprometido com a arrumação das contas públicas, sem a qual a retomada econômica será comprometida, é o clima de radicalismo que se instalou no Brasil nos últimos anos. Um verdadeiro Fla x Flu político, jogo em que os envolvidos se xingam, não se ouvem e todos perdem, o País muito mais…

Nunca vi nada nem sequer parecido mesmo tendo entrado na faculdade em 1976, em plena ditadura militar. Fiz passeata e corri da polícia, mas assisti a muitos debates minimamente civilizados em que uma parte ouvia a outra. Discordava, mas ouvia. Hoje, a impressão que tenho é que ninguém mais ouve ninguém e cada um diz (e escreve!) o que lhe vem à cabeça, sem se preocupar minimamente com a manutenção das condições do diálogo…

Neste ano que se inicia, de retomada da economia e de eleições presidenciais, faço votos que os ânimos se apaziguem um pouco mais e possamos ter um pleito o menos radicalizado possível, com a eleição de um presidente comprometido com o indispensável ajuste das contas públicas. Que assim seja!

*Artigo publicado na edição 142 da revista Algomais (www.algomais.com)

Este post tem 3 comentários

  1. Milo

    If you are going for best contents like I do, only visit
    this site all the time as it presents quality contents, thanks

  2. Gabrielle

    Quality articles is the secret to attract the visitors to visit
    the site, that’s what this web page is providing.

  3. Norris Bonton

    Everything is very open with a clear explanation of the issues.It was definitely informative. Your site isextremely helpful. Thank you for sharing!

Deixe um comentário