Para concluir o dever de casa econômico é indispensável fazer boas escolhas políticas


No Brasil diz-se que o ano só começa depois do carnaval, o que é, evidentemente, injusto para com a grande maioria da população que pega no batente desde o primeiro dia útil do ano ou, mesmo, antes. Todavia, se dermos algum crédito a isso, podemos dizer que este ano começa não só tarde como promete ser bem “curto” pois teremos ainda pela frente a Copa do Mundo e as eleições. E, sobretudo, por ser um ano curto e eleitoral cabe-nos atenção redobrada.
“O Brasil ainda não tem a casa arrumada. Mas acho que em três ou quatro anos, um governo firme conseguirá. Aí, é sair para o abraço, para o crescimento.”
Luciano Coutinho, economista, Dinheiro, 15.02.06
É importante observar que, do ponto de vista da economia, o país avançou muito desde que alcançou a estabilidade macroeconômica (leia-se controle da alta inflação crônica), com a implantação e a manutenção, mesmo depois da mudança de governo, do chamado “tripé da estabilidade”: sistema de metas de inflação; câmbio flutuante; e responsabilidade fiscal. Todavia, mesmo com essas conquistas, muito ainda há que ser feito. Prova mais do que eloqüente disto é o fato de os juros bancários no Brasil serem os maiores do mundo.
“Em nenhum lugar do mundo um empréstimo custa tão caro como no Brasil. (…) no segundo trimestre de 2005, já descontada a inflação acumulada (…) chegou-se à taxa real cobrada pelos bancos — 44,7% ao ano.”
Folha de S. Paulo, 16.02.06
A justificativa principal para os juros estarem neste nível estratosférico é, sobretudo, o tamanho da dívida interna pública brasileira que em dezembro de 2005 atingiu o inédito patamar de R$ 1 trilhão, equivalente a 51,6% do PIB.
“É muito, especialmente para um país em desenvolvimento. No México, esse índice é de 22%, e no Chile, de 10%. Além de alta, a dívida brasileira é cara e difícil de pagar. Os juros no país são os mais altos do mundo, o que eleva o valor da dívida exponencialmente. Além disso, os prazos de vencimento são muito curtos, em média 28 meses.”
Revista Veja, 08.02.06
Por aí se pode ter uma idéia da complexidade da relação juros x dívida: eles são altos porque a dívida é grande e a dívida é grande porque eles são altos. Uma típica situação do cachorro correndo atrás do rabo. Para enfrentá-la seriamente, dizem os especialistas, faz-se necessária uma dupla abordagem: (1) melhoria considerável do perfil da dívida (coisa que, aliás, o presente governo vem se esforçando em fazer); e (2) eficientização e redução dos gastos públicos. Só que mexer nos gastos é uma coisa bastante difícil de fazer e que requer seriedade, determinação e muita capacidade de negociação do governo e, também, da classe política como um todo.
“… essa não é uma questão apenas do governo, é de toda a sociedade. É um tema no qual o eleitor precisa pensar quando escolher o seu deputado.”
Joaquim Levy, secretário do Tesouro, Veja, 08.02.06
Num ano eleitoral, portanto, atentar para essa necessidade premente é uma questão de responsabilidade para com o futuro do Brasil. Não deve ser esquecido o alerta de Luciano Coutinho: um governo firme ainda levará pelo menos quatro anos para fazer o resto da arrumação necessária para recolocar o país no rumo do crescimento sustentado. É absolutamente indispensável pensar muito nisso na hora de votar.

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