Querer ser o que não pode

    Tem-se falado muito sobre a “passividade”, a “falta de agressividade”, a “timidez”, a “falta de grito”, dos pernambucanos na briga por verbas, tratamento privilegiado, captação de investimentos, refinaria, montadora etc, etc.
     E, nesses comentários, é inevitável a comparação com os baianos e com os cearenses que seriam, por suposto, mais “agressivos” quando tratam dos interesses dos seus estados. Sobretudo os baianos que não hesitam em tentar “ganhar no grito”, sempre.
     Se, por um lado, é evidente que esse assunto não se esgota em comentários simplistas e envolve uma vastíssima discussão psicossocial-antropológica do tipo: “por que os pernambucanos são o que são?”; por outro, como tentativa de contribuição ao debate, cabem algumas considerações sobre fatos recentes.
     Com o fracasso da reforma da previdência, o governo federal parece que resolveu mudar de estratégia e partir logo para promover um corte brutal no Orçamento da União, prejudicando, com isso, principalmente, o Nordeste e, em particular, Pernambuco.
     Em meio às articulações que se seguiram, a Folha de São Paulo publicou, em 15.06.96, o comentário reproduzido a seguir.
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     Independente do mérito da questão ou dos resultados práticos dessa ação específica, é interessante notar a visão “externa” sobre os pernambucanos, comparados aos mineiros. O comentário coincide com a publicação de uma vasta reportagem, na Revista ISTOÉ de 12.06.96, sobre Minas Gerais, considerada a “Trilha do Capital.”
     Sobre o assunto, algumas questões podem ser formuladas: vale a pena tentar ser o que não se pode para conseguir os mesmos supostos “resultados” que outros “atingem” porque são o que são? Não seria mais adequado, do ponto de vista de marketing, procurar transformar em vantagens competitivas as características próprias, transformando-as em referências de identificação positiva?
     São questões estimuladoras de um bom debate. Existe uma música que diz: “Pernambuco tem uma dança que nenhuma terra tem”. Não parece mau, também, ter um jeito de lidar com o desenvolvimento que seja eficaz, justamente porque é o “jeito que nenhuma terra tem”, ainda que, com certeza, menos frenético que a dança.
     O sucesso já foi definido como sendo: “conseguir mercado para aquilo que se gosta de fazer.” Talvez o segredo do desenvolvimento consista, justamente, em gosta de ser de Pernambuco.