"Pra mim, é soda de maçã"

Diálogo verdadeiro, travado entre uma pessoa que estava sentada na mesa de uma lanchonete, tomando um Refrigerante X, e um conhecido que acabava de entrar:
Mas rapaz, como é que você toma Refrigerante X, um negócio ruim desse?
Aqui só tem dele, além do mais, pra mim isso não é Refrigerante X, é Soda de Maçã.
Ao fazer referência à “Soda de Maçã”, a pessoa estava falando de um tipo especial de refrigerante que existia na época em que os dois eram estudantes e que era uma “verdadeira maravilha”, infelizmente desaparecido há muito tempo e que era, provavelmente, tão bom porque preservado pela memória idílica da infância.
Essa história serve para ilustrar um aspecto importante da vida do trabalho, da vida organizacional. Quem tem responsabilidade por fazer com que as coisas aconteçam, por manter o negócio funcionando (tenha ou não função gerencial), não pode passar o tempo todo “tomando um refrigerante ruim.” É preciso, de vez em quando, dar um “refresco.” Fazer um esforço mental para introduzir a “Soda de Maçã” na história. Caso contrário, a situação pode ficar insuportável.
Alguém já disse, com propriedade, que “a mente humana não suporta realidade demais“. Daí, talvez, a necessidade que as pessoas têm de dramatizar a vida e, como não podia deixar de ser, a vida no trabalho. Diariamente, verdadeiras obras primas da dramaturgia popular são encenadas nas organizações, algumas em intermináveis capítulos, por certo para dar vazão à veia dramática das pessoas e a essa impossibilidade de se ater em demasia à realidade. Problemas que poderiam ser resolvidas de forma direta, de maneira objetiva, são amplificados, desdobrados, recheados, até se transformarem em enredo para performances dramáticas dos mais variados estilos e escolas, algumas dignas de prêmios da Academia.
O gerente eficaz, o profissional empenhado, o agente de mudança comprometido, devem fazer o possível para não embarcar no drama desnecessariamente. Podem e devem usar os recursos dramáticos de que dispõem (e todos nós os temos, quer gostemos ou não desses dotes) para ajudar a encaminhar as coisas para um clímax produtivo. O método “Soda de Maçã” pode ajudar.
Claro que ao sugerir isso, não se está advogando mascarar a realidade, criar ou amplificar um clima de fantasia, danoso ou improdutivo. Pelo contrário, o recomendável é usar o recurso a favor, não levando muito a sério as performances dos “Refrigerantes X” e vê-los também como “Sodas de Maçã” para conseguir alcançar o resultado que realmente importa: matar a sede de forma minimamente prazerosa, principalmente se estiver num lugar onde só tem “Refrigerante X” para vender.
Isto significa aplicar à realidade, às vezes estressante, às vezes apenas difícil mas incômoda ou excessivamente exigente, um pouco da própria crença em algo melhor que pode vir depois, um pouco de humor para introduzir um toque de prazer e “relax” no desconforto, um quê de sonho para continuar impulsionando o ânimo.
Aí, os “dramas” deixam de ser tão dramáticos, as “tragédias” são minimizadas e as “catástrofes” menos destrutivas. Permanece a capacidade de ir em frente, na direção do futuro, onde, para continuarmos competitivos, devemos chegar entre os primeiros. Ajuda muito se for com menos drama e mais humor.