Greenspan, os juros e o Brasil

A autoridade monetária mais temida do planeta, Alan Greenspan, dirigente do Fed (Federal Reserve), o banco central dos EUA, comandou na terça-feira passada, mais uma vez, a elevação dos juros básicos norte-americanos em 0,5 ponto percentual, colocando-os no patamar dos 6,5% ao ano. Essa é a maior taxa desde 1991. E tem mais: manteve o viés de alta (ou seja: deve vir mais aumento por aí). Por que ele faz isso? Em uma expressão: medo da inflação e do descontrole da economia. As autoridades monetárias das economias desenvolvidas fogem da inflação e da incerteza macroeconômica como o diabo foge da cruz.
Os receios de Greenspan têm fundamento. A economia norte- americana cresce sem parar a 111 meses seguidos, embalada pelos ganhos de produtividade da chamada “nova economia” e pela valorização recorde das ações das empresas de tecnologia, sobretudo as da Internet, chamadas também de “pontocom” ( ou “.com“). O norte-americano é um povo curioso. Consome mais do que poupa e investe muito em ações (estimativas não oficiais dão conta de que cerca de 50% dos norte-americanos fazem investimento em ações cotadas em bolsa de valores). E, nos últimos tempos, o consumo tem sido puxado, justamente, pelo ganho das ações das empresas tecnológicas. Um exemplo caricato mas que dá uma idéia grosseira de como a coisa funciona: o sujeito quer trocar de carro, faz um empréstimo no banco, compra ações de rápida valorização, espera um pouco, vende as ações, paga o empréstimo ao banco e, com a sobra, completa o que faltava para trocar o carro. Problema causado por essa “corrente da felicidade” e pelo aumento da produtividade geral da economia (com os avanços propiciados pela tecnologia da informação): aquecimento da demanda e pressão dos preços para cima, podendo gerar inflação. Aí, entra “seu ” Greenspan, aumentando os juros para encarecer os empréstimos, tirar dinheiro do mercado e conter a demanda.
É do próprio Greenspan, já faz algum tempo, a advertência de que a economia norte-americana, de um modo geral, e o mercado de ações das empresas tecnológicas, em particular, vivem um estado de “exuberância irracional“, insustentável a médio prazo. Só para se ter uma idéia do tamanho do problema que assusta Greenspan: o aquecimento da economia norte-americana já produz um déficit comercial (importações maiores que exportações) da ordem de US$ 1 bilhão por dia. Isso mesmo: US$ 1 bilhão a cada dia.
Todo esse esforço do Fed para fazer a economia norte-americana crescer menos pode ter efeitos danosos para o Brasil. Em primeiro lugar, como dependemos criticamente de recursos externos para fechar nossas contas, o aumento dos juros norte-americanos dificulta a vinda de dólares para investimento aqui (passa a ser mais seguro deixar lá, já que a remuneração torna-se mais atraente). Em segundo lugar, como a Economia está longe de ser uma ciência exata, não é possível prever o que acontecerá: se, como dizem os norte-americanos, uma soft landing (aterrisagem suave), uma hard landing (aterrisagem difícil) ou uma crash landing  (aterrisagem acidentada). Se a coisa não for soft, a outra porta de entrada de recursos externos (além do investimento) que é a exportação vai ser prejudicada (23% de nossas exportações são para os EUA). Sem falar que um desaquecimento da economia norte-americana arrastará para baixo o crescimento mundial e, como conseqüência, a demanda por produtos brasileiros. Péssima notícia, portanto: cresce a probalidade de que os constrangimentos externos atrapalhem as metas de crescimento econômico projetadas para 2000 e adiem, mais uma vez, as perspectivas de retomada do desenvolvimento, agravando a nossa já difícil situação social.

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