Um exercício de planejamentopara o governo do presidente Lula

 
Como qualquer projeto que se inicia, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ser objeto de um planejamento estratégico. Se usarmos as categorias básicas do processo de planejamento, como a matriz SWOT (ameaças, oportunidades, forças, fraquezas), o desafio para 2003 e as prioridades, obteremos algo semelhante ao que se segue.
Oportunidades (Facilitadores Externos ao Governo)
1. Capital de Esperança Recebido (expresso pelos quase 53 milhões de votos conquistados)
2. Ajuste Externo em Curso (duplicação para US$ 12 bilhões do saldo da Balança Comercial e perspectiva de zeragem do déficit em 2004)
3. Bases Fiscais Deixadas pelo Governo FHC (Lei de Responsabilidade Fiscal, “esqueletos” incorporados à dívida e orçamento realista)
Ameaças (Dificultadores Externos ao Governo)
1. Excesso de Expectativas (que pode transformar-se em frustração ante um quadro adverso)
2. Ambiente Internacional Avesso ao Risco (que se traduz na maior restrição de crédito externo da história do país)
3. Inflação (que, por conta do dólar, anda pela casa dos 20% ao ano no atacado e 10% já no varejo) 
Forças (Facilitadores Internos ao Governo)
1. Determinação do Presidente Eleito (a grande vontade de acertar que ele deixa transparecer)
2. Coesão Programática do PT (a maior de todos os partidos brasileiros)
3. “Núcleo Duro”, Competente e Coeso (Dirceu, Palocci, Gushiken, Mercadante e outros, que deve resistir ao desgaste da montagem do ministério) 
Fraquezas (Dificultadores Internos ao Governo)
1. Amplitude da Aliança Política (e a conseqüente dificuldade de contentar a todos na constituição da equipe e harmonizar as diferenças no governo)
2. Ala Radical do PT (que já anunciou que vai fazer oposição ao governo dentro do próprio partido)
3. Desconhecimento da Máquina (o PT assume pela primeira vez uma máquina federal enorme com mais de 22 mil cargos para preencher) 
A partir dessa avaliação estratégica, é possível traçar um desafio do governo Lula para o próximo ano.
Desafio 2003
Utilizar o grande capital de esperança recebido para, mantendo a estabilidade da moeda, fazer os ajustes estruturais necessários, restabelecer a credibilidade no país e habilitar-se à retomada do desenvolvimento sustentado, a partir do próximo ano.  
Com base na avaliação e no desafio, é possível esboçar aquelas que podem ser definidas como as principais prioridades (o que não pode deixar de ser feito pelo próximo governo, sob pena de esvaziar sua credibilidade). Na forma como estão abaixo, as prioridades são uma contribuição do deputado Delfim Netto.
Prioridades
1. Segurar a INFLAÇÃO em um dígito, decrescente (com políticas fiscal e monetária adequadas).
2. Acelerar a taxa de CRESCIMENTO do PIB, sem o que não se reduzirá o desemprego).
3. Reduzir paulatinamente as DESIGUALDADES SOCIAIS, com o aumento das oportunidades, a começar por educação e saúdeReduzir paulatinamente as DESIGUALDADES SOCIAIS, com o aumento das oportunidades, a começar por educação e saúde
Esse breve exercício de planejamento estratégico do próximo governo mostra como são exigentes os requisitos para o futuro de curto prazo. Todavia, uma coisa conta a favor: tanto o governo está muito empenhado quanto praticamente a totalidade do país está torcendo para que dê certo. Com o empenho, a torcida e um pouco de sorte, tem tudo para dar.