Pesquisas apontam dificuldades para cenário re-eleitoral do presidente Lula


Até meados do primeiro semestre de 2005, o presidente Lula era imbatível para sua própria sucessão. Todos os analistas davam a reeleição praticamente como favas contadas. Foi então que sobreveio a crise política e tudo mudou. As últimas pesquisas CNI e Datafolha mostram, com muita clareza, as conseqüências da crise detonada pelas denúncias do “mensalão” sobre as pretensões re-eleitorais do presidente Lula.
“Pela primeira vez desde que tomou posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa a liderança da disputa pela Presidência, num cenário eleitoral já no primeiro turno, se as eleições fossem hoje.”
Folha de S. Paulo, 15.12.05
De acordo com a pesquisa Datafolha, Lula teria 29% dos votos no cenário em que o rival tucano é José Serra que venceria o primeiro turno com 36% da preferência do eleitorado. No segundo turno, Lula seria batido por Serra que teria 50% dos votos contra 36% do presidente. O mais grave, todavia, é que, quando é considerado o cenário de uma disputa com Geraldo Alkmin, a pesquisa projeta um virtual empate técnico entre Lula e o governador de São Paulo no segundo turno (41% x 40% das intenções de voto, respectivamente).
“Eleição não se ganha de véspera, muito menos um ano antes. Mas a tendência verificadas pelos diferentes institutos já causa efeitos importantes. Um deles é o desânimo de aliados naturais e potenciais de Lula.”
Eliane Catanhêde, FSP, 15.12.05
Esse desânimo é justificado pela perda de 20 milhões dos 52 milhões de votos dados a Lula no segundo turno da eleição passada. Com isso, o candidato volta ao seu patamar histórico de 30 milhões de votos. Com eles disputou quatro eleições mas só ganhou aquela em que conseguiu agregar, justamente, os 20 milhões de votos que acaba de perder, preponderantemente dos formadores de opinião. Todavia, mesmo combalido, o presidente Lula, com 30 milhões de votos, é um candidato respeitável.
“Uma forma de ver a pesquisa é concluir que esse candidato [Lula] continua tendo uma força eleitoral e popular muito grande.”
Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados
Para recuperar parcela importante dos votos perdidos e voltar a ter chances eleitorais consistentes, só parece restar uma alternativa ao presidente: fazer com que a economia volte a crescer a um ritmo vigoroso, semelhante ao verificado em 2004. Assim, alguns dos que, hoje, arrependeram-se do voto dado em 2002, poderiam pensar que, já que a economia estaria crescendo, talvez não valesse a pena correr o risco da mudança, uma vez que “todos os políticos são iguais mesmo”. É o voto do tipo “já que só tem tu, vai tu mesmo”. Um voto de má qualidade mas, afinal de contas, voto. Uma situação eleitoralmente desconfortável para o presidente.
“A situação de Lula não é confortável, mas sua história política e pessoal sugere que dificilmente jogará a toalha. Ao contrário, lutará com todos os seus meios.”
Eliane Catanhêde, FSP, 15.12.05
Com a recente divulgação pelo IBGE dos dados apontando queda recorde do PIB no terceiro trimestre de 2005 (ver GH/564), a alternativa eleitoral de crescimento acelerado em 2006 fica comprometida. Tudo indica que no próximo ano o crescimento da economia será maior do que o deste ano, mas menor do que 2004. Esse fato torna mais imprevisíveis, ainda, os desdobramentos político-eleitorais.