Turbulências no mercado financeiro internacional recomendam cintos afivelados

A semana que passou foi marcada em termos econômicos por recordes preocupantes. O primeiro deles aconteceu na segunda-feira 21.01 quando o mercado acionário mundial teve o pior desempenho desde os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001. Na terça 22, o Federal Reserve (Fed) reduziu a taxa básica de juros norte-americana de 4,25% para 3,5%, configurando o maior corte feito de uma só vez desde 1984. Tratou-se de uma ação forte para tentar conter as tendências depressivas da economia dos EUA que, na opinião de vários analistas, não passou de reação questionável, conforme destaca o representante do Brasil no FMI, economista Paulo Nogueira Batista Jr.

“O Fed está correndo atrás do prejuízo. As autoridades monetárias e fiscais subestimaram a extensão da crise e agora têm pouco tempo para agir. (…) A decisão de antecipar o corte de juros, por exemplo, pode ter impacto ambíguo, sobretudo quando tomada de afogadilho. Por um lado, o efeito é positivo — o Fed finalmente acordou para a gravidade da crise. Por outro, pode gerar mais insegurança — o que é que o Fed sabe que nós não sabemos?”

Paulo Nogueira Batista Jr., Folha de S. Paulo, 24.01.08

Depois da medida do Fed, as bolsas voltaram a subir configurando uma forte oscilação que, também segundo os analistas, é mais uma evidência da crise que se avizinha. Na verdade, cada vez mais vai ficando evidente a tendência de forte desaquecimento da economia norte-americana. A dúvida é de que tamanho será a queda.

“Analistas estimam que se as bolsas estão refletindo de fato uma recessão à frente, elas deverão cair mais ainda. Essa é a perspectiva mais provável, já que os juros negativos e estímulos fiscais só terão impactos plenos no segundo semestre do ano.”

Jornal Valor, 25.01.08

Portanto, ao que tudo faz crer, ainda teremos um período mais ou menos prolongado de turbulências que deixa todos os agentes não só com o pé atrás como também com muitas dúvidas. Agora mesmo, encerrou-se a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos na Suíça, evento que reúne os principais nomes da economia mundial, sem que se chegasse a um acordo mínimo sobre o tamanho do problema.

“O essencial é saber o tamanho da besta.”

Javier Santiso, vice-diretor da OCDE

Como ninguém sabe o que vai acontecer, o nervosismo dá o tom do mercado financeiro e as turbulências acontecem como na semana passada. A Bovespa, por exemplo, oscilou fortemente e terminou a semana mantendo a perda acumulada em 2008 de 10%, muito embora esteja numa boa posição em comparação com as demais bolsas mundiais em razão de sua valorização recorde em 2007 de 43,65%, só perdendo para a bolsa de Xangai.

“De um modo geral, as turbulências não têm poupado ninguém, com o efeito cascata afetando a todos. A Bolsa brasileira até que não está tão mal no ano, se considerarmos o que subiu em 2007.”

Jason Freitas Vieira, economista, FSP, 26.01.08

Seja como for, a situação exige cintos afivelados para aguardar o que vem pela frente. Se o tranco for grande, ninguém sairá ileso por conta do tamanho da economia norte-americana (mais de ¼ da economia do planeta). Nem mesmo o Brasil, muito embora em condições bem melhores do que nas crises anteriores.