Pequena melhora do desempenho não esconde o fiasco olímpico do Brasil

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Nem toda a cobertura ufanista da mídia conseguiu esconder o fiasco que foi, mais uma vez, a participação brasileira nas Olimpíadas de Pequim. Por mais que se faça o justo elogio desse ou daquela medalhista, não dá para esconder o fato de que, para um país que tem a quinta maior população e é a 11ª.  economia do planeta, obter a 23ª. colocação nas olimpíadas é muito pouco. É evidente tratar-se de um problema de base que se confunde com o grave problema educacional brasileiro.

“Como diria o ex-ministro da  Educação Cristovam Buarque, se os políticos brasileiros, por ignorância, por interesse ou por outras razões escusas, não investem devidamente na educação básica e na formação do cidadão, muito menos o farão na preparação de esportistas. (…) Se por um lado avaliamos o nosso ‘fiasco olímpico’, por outro somos obrigados a lamentar o nosso ‘fiasco educacional’, que traz como conseqüência natural o lastimável incentivo à violência e à bandidagem…”

Carlos Justino da Silveira, Blog do Cristovam, 19.08.08

Alguns argumentarão que, embora a classificação tenha caído da 16ª. em Atenas para a 23ª. em Pequim, o número de medalhas aumentou (de 10 para 15), prova de que o desempenho geral do país foi melhor. É verdade, mas a questão relevante não é essa. O principal é que pela importância populacional e econômica do Brasil no mundo não podemos nos contentar com menos do que a disputa pelas cinco primeiras colocações. Agora, nem mais a velha desculpa da falta de dinheiro existe mais.

“A partir de 2001, com o advento da Lei Agnelo/Piva, o esporte olímpico e paraolímpico passou a receber mais recursos. No ano passado só o Comitê Olímpico Brasileiro recebeu em torno de R$ 80 milhões. Nos últimos sete anos, foram em torno de R$ 500 milhões. É um dinheiro expressivo, com o qual nunca se contou. Esses valores ainda são acrescidos dos patrocínios das estatais. O Banco do Brasil patrocina o vôlei, o Robert Scheidt, o futsal, que não é modalidade olímpica, os Correios patrocinam a natação, a Infraero patrocina o judô e, assim, sucessivamente.”

José Cruz, jornalista, Correio Brasiliense

Tem dinheiro mas falta uma política pública para os esportes amadores no Brasil. Desapareceu a educação física das escolas (alguns mais radicais dirão que desapareceram as próprias escolas…) e, com isso, a rede natural de captação de atletas, sem falar no principal, que é a nobre função formadora do caráter que tem o esporte. É raro um(a) atleta não ser uma pessoa de bem.

“Nós não temos hoje a educação física na escola, que é o ponto de partida para identificar um atleta. Nós temos no Brasil 33 milhões de crianças em idade escolar. Se pegássemos 0,1% desse contingente, teríamos o potencial enorme de 33 mil crianças para poder identificar ali possíveis talentos no esporte.”

José Cruz, jornalista, Correio Brasiliense

Se deixarmos de lado os feitos individuais e de algumas modalidades patrocinadas (futebol e vôlei), nem o mais fervoroso otimista pode ficar contente com o nosso desempenho nas Olimpíadas de Pequim. Se o Brasil aspira a ser um dia uma potência econômica mundial não o será sem ser também uma potência olímpica.