A crise se agrava e a hora é detomar todo o cuidado com os gastos

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No Brasil, nem o grande espetáculo da democracia que foram as eleições municipais conseguiu desviar a atenção da crise financeira internacional. Mesmo depois da aprovação do pacote de salvação que passou de US$ 700 bilhões para U$$ 850 bilhões, as expectativas não melhoraram. O temor, bastante justificado, do mercado é o de que, além de mais quebradeira de bancos, a desaceleração da economia norte-americana seja maior do que o especulado nos piores cenários. Parece não haver mais dúvidas de que, depois de anos consecutivos de euforia financeira nos EUA e crescimento econômico recorde no mundo, vem por aí um período que pode ser de longa recuperação.

“Períodos de crescimento acelerado, inflação baixa e estabilidade geram complacência. A boa vida alimenta a fé exagerada em mercados não-regulados e as agências fiscalizadoras ignoram o excesso de risco em escalada. Nos EUA, problemas financeiros explodiram com a perda de valor dos títulos garantidos por hipotecas e também porque pessoas e instituições tomaram emprestado para fazer apostas que azedaram. Entre 1980 e 2007, as dívidas das famílias dobraram de 50% do PIB para 100% e as dívidas do setor financeiro saltaram de 21% do PIB para 116%. Se há medo de insolvência, o credor deixa de emprestar e o devedor de pagar. O resultado? Recessão e quebradeiras.”

Eliana Cardoso, economista da FGV, Valor, 02.10.08

Mais endividamento sem financiamento significa redução do consumo e, no extremo, falta de pagamento. Inadimplência em grande escala resulta em falência dos emprestadores que, nesse movimento, podem arrastar os que estão mais alavancados, provocando risco sistêmico. Em resumo e de forma bem simplificada é o que está ocorrendo no momento. Com uma diferença em relação às crises anteriores, no que diz respeito ao Brasil, como destaca o ex-ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega.

“No passado, o mundo tinha dinheiro para emprestar mas não éramos um país confiável. Agora, todos gostariam de negociar com o Brasil, mas não há dinheiro.”

Mailson da Nóbrega, Exame, 08.10.08

Com a quebradeira de bancos nos EUA e, agora, na Europa, a economia mundial pode entrar no terreno pantanoso da recessão. O que distingue o Brasil no cenário da crise atual é que o sistema bancário brasileiro já passou pelo seu momento de purgação quando da época do plano Real, há cerca de 15 anos. Ao que consta, nenhum grande banco brasileiro está envolvido com a bolha imobiliária que provocou a confusão nos EUA, como bem destaca o ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, Antônio Delfim Netto no canal por assinatura GloboNews.

“O Brasil tem um dos sistemas bancários mais hígidos do mundo. Eu não sei se é por virtude ou por ignorância, mas tem. (…) Entre os emergentes, provavelmente sofreremos menos que os outros.”

Delfim Netto, Conta Corrente Especial, 05.10.08

O problema é que quando se tratam de situações de pânico, como a que parece estar ocorrendo a partir da trapalhada norte-americana, sabe-se como o problema começa mas não se sabe como acaba, antes que termine. De qualquer modo, uma coisa parece certa: sobrevirão tempos difíceis. E, aí, a melhor recomendação é tomar todo cuidado possível com os gastos. Em época de crise de liquidez, controle máximo do dinheiro.