O que esperar do ano de 2009:apenas crise ou também oportunidade?

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À medida em que parece que os ânimos vão serenando em relação ao “tsunami” que atingiu o sistema financeiro norte-americano e se alastrou para a Europa e depois para as bolsas de valores do mundo todo, vão ficando evidentes, aos poucos, os efeitos recessivos sobre a chamada economia real. Além disso, vai também “caindo a ficha” em relação ao exagero que terminou provocando essa confusão toda. O esperado, em tempos normais, é que a oportunidade procure o capital e não o inverso.

“Quando é o capital que caça o investimento, estamos num período muito perigoso, e foi o que ocorreu.”

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu

Esse processo de inversão da lógica econômica elementar foi bastante favorecido pelo excesso de poupança mundial proveniente da Ásia, em especial da China (os chineses poupam mais de 50% do que ganham), e pela política de leniência monetária praticada pelo ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, o “senhor mercado”, na tentativa de evitar que a economia norte-americana caísse em recessão depois do estouro da bolha da Nasdaq (empresas pontocom) em 2001.

“Na economia longos processos de prosperidade levam a um afrouxamento e ao desastre.”

Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda

Os juros norte-americanos de tão baixos chegaram a ficar negativos e desestimularam as aplicações financeiras, incentivando a “criatividade” que resultou, entre outros, na substituição da bolha da internet pela bolha imobiliária. Com a subida dos juros, a coisa complicou.

“Por mais de um século o preço dos imóveis nos EUA oscilou dentro de uma faixa relativamente estreita, em termos reais. De repente, há seis ou sete anos, subiram entre 40% a 60%, dependendo da medida que se usa. Desse ponto já caiu uns 20%. As estimativas indicam que, se cair mais 20%, o número de famílias que não vão conseguir administrar as suas hipotecas vai crescer muito.”

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil

Com as famílias norte-americanas inadimplentes, os títulos lastreados em hipotecas viram pó e levam financeiras, bancos e seguradoras para o buraco como estamos vendo em profusão. A maioria perde dinheiro, vítima do “efeito manada” mas alguns ganham com a irracionalidade coletiva, como é o caso do homem mais rico do mundo, célebre investidor do mercado de ações que, num momento como este, amplia suas compras.

“Uma regra simples dita minhas compras: fique com medo quando os outros forem gananciosos; seja ganancioso quando os outros estiverem com medo.”

Warren Buffett, mega-investidor norte-americano

O exemplo de Buffett é apenas um para os poucos que estão líquidos e têm estômago para comprar ações desvalorizadas. Para os outros, os tempos difíceis que se avizinham deveriam servir de inspiração para, sem a pressão da “exuberância irracional”, fazerem o dever de casa, consertando o que precisa ser consertado para estarem em melhores condições quando a retomada vier mais à frente. Sob esse ponto de vista, 2009 será uma excelente oportunidade para seguir a orientação do escritor e filósofo Emerson, natural do país onde toda a confusão atual começou. O Itaú e o Unibanco já aproveitaram a sua oportunidade, antes mesmo de 2009.

“Tempos difíceis têm um valor científico. São as oportunidades que um bom aprendiz jamais perde.”

Ralph W. Emerson, 1803-1882, filósofo norte-americano