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O campo das idéias sobre a gestão empresarial é, sem sombra de dúvidas, um campo minado. A cada momento estão surgindo teorias e abordagens de toda natureza. Basta passar uma vista rápida nas prateleiras dedicadas a “negócios” nas livrarias dos aeroportos pelo mundo afora. Algumas dessas idéias são, para dizer o mínimo, estapafúrdias. Agora mesmo, circula na internet um vídeo do programa Sem Censura, ancorado pela jornalista Leda Nagle, no qual o palestrante Waldez Ludwig defende a tese de que “o gerente está morto”.

“Por que é que tem capataz? Porque o senhor de engenho detesta sujar as mãos. Então, o que é que ele faz? Contrata um capataz. Nas nossas empresas, a gente dá o nome de gerente para esse cara. Aí você pergunta pro gerente: o que é que você faz? Nada. (…) Ele não faz nada. Ele passa o dia como capataz, ou seja, controlando os outros. (…) Está desempregado! É um cara que não sabe fazer nada, só controlar os outros. (…) É o fim do capataz. Morre junto o tal do gerente…”

Waldez Ludwig, palestrante, Programa Sem Censura

Mesmo que se contextualize o que ele estava dizendo (falava sobre a inovação hoje em dia como principal fator competitivo das empresas e sobre a consequente estrategicidade das pessoas, uma vez que não se faz inovação sem elas) e que se dê o desconto da “síndrome do palestrante” (tem sempre que estar criando “idéias de efeito” para evitar o sentimento de déjà vu) há um evidente exagero despropositado na abordagem da “morte do gerente”.

Não restam dúvidas de que na “sociedade do conhecimento” o principal fator de competitividade é a inovação, que só pessoas dinâmicas, motivadas e criativas (na expressão do Luwig, “empreendedoras”) são capazes de inovar e que essas pessoas não precisam nem querem se submeter a “capatazes”. Mas, daí concluir que o “gerente morreu”, é desconhecer o que de mais básico já foi consolidado em termos de conhecimento sobre o funcionamento de pessoas em grupos ou equipes de trabalho. Uma frase do experiente jornalista Mino Carta, editor de publicações do porte de Quatro Rodas, Veja, IstoÉ e Carta Capital, sobre equipes de jornalistas, das quais se pode dizer tudo, menos que não sejam criativas, ilustra bem a importância do gerente (que ele chama de “chefia”), mesmo em equipes dinâmicas.

“Eu acho que jornalismo é trabalho de equipe. Equipes pequenas são o ideal, porque ali todo mundo carrega o piano e sabe tocá-lo. Quando você tem equipes grandes, nem todos são indispensáveis, mas você tem seis, sete, oito profissionais que fazem a publicação. É claro que há necessidade de uma chefia, porque há um momento em que é preciso tomar uma decisão. A chefia serve para isso, até para diminuir dúvidas. Tem dois que acham isso e dois que acham aquilo. A chefia é o ‘Salomão’, no caso.”

Mino Carta, jornalista

Nenhuma equipe, independente do seu nível hierárquico na organização, funciona se não for gerenciada (exceto raríssimos casos que só fazem confirmar a regra). “Chefe”, “gerente” ou “líder”, não importa o nome, deve sempre haver alguém responsável pela coordenação, cujo papel é o de, como se pode depreender da própria etimologia da palavra, co-ordenar (ordenar “com”) o trabalho e o desenvolvimento da equipe. Se tem gente por aí executando o gerenciamento como se fosse uma capatazia, paciência… Agora, a partir disso concluir que o “gerente morreu” é tão insano como crer que ele deve continuar atuando como um capataz.