Passado o carnaval, vê-se que EUA e China estão fazendo seus deveres de casa

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Nem mesmo o carnaval, em pleno cenário do autoproclamado “maior show da terra”, o Sambódromo no Rio de Janeiro, foi capaz de exorcizar o fantasma da crise. A conversa entre os executivos franceses cujas empresas patrocinaram a escola Acadêmicos do Grande Rio girou em torno da crise como verbalizou o presidente do conselho de administração da franco-belga Suez Energy.

“A crise foi o tema (no camarote) pois está todo mundo rediscutindo contratos.”

Maurício Bähr, Jornal Valor, 25.02.09

Pouco antes do carnaval, o presidente Obama sancionou o pacote aprovado no Congresso e divulgou informações sobre o plano de apoio aos mutuários de hipotecas que estão com dificuldade de pagamento. Ao todo, são já três importantes instrumentos à disposição do novo governo para enfrentar a crise.

“O governo Barack Obama ganhou três instrumentos para enfrentar a crise que atinge os Estados Unidos. O primeiro é o pacote de estímulo fiscal arrancado a fórceps dos senadores republicanos. Outro veio com a definição das regras da segunda fase do Tarp, programa herdado do governo George W. Bush para retirar os ativos tóxicos dos bancos e estabilizar o sistema financeiro. Finalmente, o governo vai usar quase US$ 300 bilhões para tentar estancar o processo de retomada de residências financiadas por hipotecas.”

Luiz Carlos Mendonça de Barros, FSP, 20.02.09

Com esse arsenal na mão, o governo norte-americano deve agora partir para o ataque à crise em todas as frentes, incluindo um flanco que esteve até então esquecido, justamente o estopim do problema: os mutuários inadimplentes de hipotecas, tomadores de crédito barato que encareceu de repente.

“Se o crédito barato era a cocaína da crise financeira, a China foi num dos principais fornecedores do produto.”

Revista Time, segundo a revista Veja, 25.02.09

Como contraparte do problema, do outro lado do mundo, a China também está fazendo o seu dever de casa. Lançou um pacote US$ 585 bilhões para enfrentamento da crise via aquecimento da demanda interna para evitar a “queda do elefante”.

“Os economistas de Pequim gostam de comparar a China a um elefante numa bicicleta. Ele só se equilibra se conseguir pedalar rapidamente, caso contrário pode cair. ‘E aí a Terra treme’, conclui o jornalista britânico James Kymge em seu livro A China Sacode o Mundo.”

Revista Time, Revista Exame, 14.02.09

Um cenário de crise na China “sacode o mundo”, sem dúvida, mas antes sacode também o “elefante” como evidenciou o famoso “massacre da Praça da Paz Celestial”, justamente na época em que a economia chinesa apresentava os mais baixos índices de crescimento econômico desde o início do programa de aceleração do crescimento chinês na década de 1970.

“Disposto a não perder popularidade após a demissão de 20 milhões de pessoas desde o acirramento da crise, o governo chinês está utilizando todas as armas que detém.”

Gustavo Gantois, IstoÉ Dinheiro, 18.02.09

Passado o carnaval, é interessante notar que os dois motores da economia mundial pré-crise (EUA e China), estão fazendo os seus deveres de casa para resolver a crise que ajudaram a criar.