Embora desacelerar, ir devagar ou “dar um tempo” de vez em quando seja essencial para a boa saúde física e mental, infelizmente na vida profissional não dá para viver sempre “relaxado”
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Hoje em dia é cada vez mais disseminado, especialmente entre os jovens, um equívoco sobre o estado de espírito que deve prevalecer no ambiente organizacional/corporativo. Muitos são os que defendem e buscam o “relaxamento” como um estado ideal. Em recente artigo reproduzido no Jornal Valor, a colunista do jornal londrino Financial Times, Lucy Kellaway, escreveu a propósito de uma conversa com o filho que reclamara de sua escola ser “meio puxada”:

“Embora relaxar possa ser uma coisa zen, não leva ninguém ao sucesso. Para ser bem sucedido na vida corporativa  ou em qualquer campo competitivo  é preciso ser motivado, obsessivo e trabalhar duro.”

Lucy Kellaway, Valor, 30.10.09
O Gestão Hoje já tratou deste tema sob diversos enfoques, inclusive do seu contraponto, a economia do “devagar” (basta ir à home page do GH, www.gestaohoje.com.br, e digitar na busca palavras como “paranóia”, “lazer”, ‘devagar” etc. e vai-se ter uma idéia da recorrência do tema). A tese principal é que, embora o lazer, o relaxamento etc., sejam fundamentais para quebrar a rotina sempre exigente do dia a dia profissional, infelizmente não se pode deixar de estar sempre imbuído do lema do escotismo.

“O lema escoteiro original, em inglês, ‘be prepared’ (‘esteja preparado’), foi criado pelo fundador do movimento, Baden Powell, e não é coincidência que fosse formado pelas iniciais ‘B.P.’, pelas quais o fundador era muitas vezes chamado, desde 1907.”

Wikipédia
E, precisando estar preparado, evidentemente, não se pode relaxar total. Na contemporaneidade, o advento da internet, com as facilidades do mundo web, têm se constituído em grande incentivo a essa idéia da não preocupação. Afinal, qualquer dúvida pode ser dirimida à distância de um clique. E talvez esse seja o mais ledo dos enganos atuais com que se confundem os mais jovens que não precisam mais tirar suas dúvidas em bibliotecas sempre difíceis de consultar ou em grossos volumes das enciclopédias Barsa, Mirador, Delta Larrouse e similares. Mesmo os gurus da economia digital, como é o caso do co-autor do best seller “Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar seu negócio” (Nova Fronteira), Don Tapscott, em entrevista para O Globo, já alertam:

“Antigamente, nos formávamos na faculdade e estávamos mais ou menos preparados para a vida. Hoje você se forma e é só o começo. Você não está preparado para a vida, está preparado para 15 minutos. Metade do que se aprendeu no primeiro ano já está obsoleto quando chegamos ao quarto ano.”

Don Tapscott, consultor canadense
Como relaxar num ambiente competitivo (e não é demais dizer que onde há vida, inclusive e principalmente vida profissional, há competição) com um barulho (ou falta dele) desses? Lucy Kellaway que escreveu o artigo refletindo o porquê do filho achar ruim uma escola “puxada” termina com um bem humorado alerta:

“Barack ‘no drama’ Obama exerce o cargo mais poderoso do mundo, mas também parece muito tranquilo. Mesmo assim, estou preparada para apostar minha própria casa de que ele não chegou à Casa Branca sendo relaxado. É um exemplo perigoso para os jovens. Quando eles vêm Obama na televisão, deviam ser informados: não tentem fazer isso em casa.”

Lucy Kellaway, Valor, 30.10.09