Em um mundo que cobra certezas, ter dúvida é considerado uma fraqueza que pode ser minimizada em prol de melhores soluções se declaramos que ainda estamos pensando alto
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A vida é cheia de certezas precárias e a vida organizacional mais ainda. No ambiente de trabalho não há, formalmente, muito lugar para dúvidas e questionamentos. Face às grandes exigências da realidade competitiva, quem tem muitas dúvidas (ou, pelo menos, as expressa amiúde) tende a ficar para trás, desprezado pelos colegas e concorrentes como alguém que não merece confiança porque é indeciso. Mas isso é um grande equívoco que pode redundar em manipulações de toda ordem.

“O ritmo da mudança no mundo de hoje é tão rápido que as pessoas ficam desconcertadas com isso, sentem-se ameaçadas e ansiosas por escapar. Acabam fazendo-o por meio de certezas que são mais falsas ainda. Isso faz com que virem alimento para os demagogos.”

Felipe Fernández-Armesto, historiador espanhol
Diante das inúmeras variáveis do complexo mundo contemporâneo, ao contrário do senso comum, quem tem certezas absolutas com certeza está equivocado. Um bom exemplo para isso é a Economia (inserida na qual estão todas as empresas e organizações), bem como o instrumental disponível para tratar dela (a política econômica). Quem pensa que entende pode estar (muito) equivocado, como frequentemente se verifica em relação às análises que são feitas, principalmente as projetivas, sobre o desempenho econômico.

“Quem disser ‘eu tenho certeza absoluta’, na minha opinião está equivocado. Parte da política econômica é arte, uma avaliação de riscos num mundo de incertezas.”

André Lara Resende, economista brasileiro
Na contramão do fluxo de “certezas”, há aqueles que advogam, justamente, o inverso. Ou seja, considerando que a incerteza é uma espécie de “estado natural” do mundo, por conta disto, devemos nos acostumar na “racionalidade da incerteza” procurando tirar partido e proveito disso.

“Devemos ingressar em uma nova racionalidade da incerteza, porque devemos entender que o mundo é feito de possibilidades, probabilidades. É um lugar para a novidade.”

Ilya Prigogine, cientista russo
As recomendações são, inclusive, de fazer da incerteza uma “amiga”, fonte de inspiração e produtividade, deixando de lado as falsas certezas que terminam por mais atrapalhar do que ajudar.

“Faça da incerteza uma amiga. Pode ser uma grande fonte de energia e criatividade. A certeza faz com que tudo adormeça.”

John Naisbitt, futurólogo norte-americano
Pois bem, na teoria é bonito mas, no ambiente de trabalho, não ter certezas é penoso. Diante de um problema, se passamos a pensar alto sobre como resolvê-lo, é prudente prevenir antes: “estamos pensando alto, não é?” Porque, se não se faz a advertência, imediatamente vem a cobrança por coerência ou certeza, matando o momento de brainstorm, indispensável à boa análise do problema e, consequentemente, às suas possíveis soluções.

“Um problema está 50% resolvido se estiver bem formulado.”

Albert Einstein, gênio da ciência
Trata-se de uma espécie de senha que evita as cobranças pela ausência de dúvidas. É impressionante a mudança de postura que se verifica quando a frase é dita. É como se as pessoas subitamente tirassem dos seus ombros o grave peso da obrigação da certeza e, mais leves, concordassem em ousar admitir que não sabem, ainda, resolver o problema que se apresenta. Vale a pena adotar o artifício. A produtividade aumenta.