De que serve ler sobre futuros incertos que não vamos chegar a conhecer?

Pensar de forma organizada e inteligente sobre o futuro, ainda que distante, como faz George Friedman, equivale a acender o “farol alto” e ajudar a tomar decisões importantes no presente
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A respeito do Gestão Hoje da semana passada, um leitor fez um comentário que vale a pena reproduzir e comentar em virtude do questionamento transcendental que faz sobre o conteúdo exposto.

“Sem querer tirar os méritos das previsões do Sr. George Friedman, fico a perguntar qual percentual de previsões de futuros que já (…) aconteceu? Sei que deve ser baixíssimo, mas com certeza deram grandes lucros a seus editores. Fica aqui a pergunta: o que é que eu faço com previsões de um futuro que nem sei se vai acontecer e do qual nem vou participar?”

Ronaldo Farias, leitor do Gestão Hoje
Ele referia-se ao tema do livro “Os Próximos 100 Anos – Uma Previsão para a o Século XXI” de George Friedman (Editora Best Business). Curiosamente, depois desse comentário, outro leitor postou mais um que, de certa maneira, responde à questão colocada pelo leitor anterior.

“Eis um tema fascinante. Vou ler este livro. Gosto de saber do passado, principalmente aquele em que não vivi. O mesmo penso sobre o futuro. (…) Nós que vivemos essas últimas duas décadas, somos privilegiados, mas ao mesmo tempo angustiados. Estamos todos sempre de prontidão, prontos a reagir. E-mail, Twitter, web, Facebook, SMS, Skype, câmeras de vídeo, celular, HDTV, TEF, GPS (alguém me disse hoje que GPS significa ‘Grupo de Pessoas Stressadas’. Achei muito emblemático). (…) Precisamos saber, ou pelo menos imaginar, para onde vamos, para diminuir esta ansiedade coletiva.”

Luiz Vieira, leitor do Gestão Hoje
O próprio autor do livro faz uma justificativa do porque dedicar atenção ao futuro e, a seu modo, responde à questão do leitor Ronaldo.

“Pessoas práticas focam no próximo instante e deixam os séculos para os sonhadores. Mas a verdade é que o século XXI se tornou uma preocupação muito prática para mim. Eu vou passar uma parte da minha vida nele. E no meu caminho até aqui, a história – suas guerras, suas mudanças tecnológicas, suas transformações sociais – mudou minha vida de maneiras muito surpreendentes. (…) Fazendo uma retrospectiva do século XX, havia coisas de que tínhamos certeza, algumas que eram prováveis, e outras, desconhecidas.”

George Friedman
Em última análise pode-se dizer que especular sobre o futuro, ainda mais de uma maneira inteligente como Friedman faz, ajuda a jogar luz sobre o que pode acontecer e, assim, se não diminuir pelo menos organizar a incerteza em relação a como proceder no presente. É como ligar o farol alto do carro quando se está numa estrada. Sem ele, só podemos ver o que está perto. Numa organização, sem a iluminação sobre o futuro, fica comprometida o que Gary Hamel chama de “a maior vantagem competitiva”.

“A maior vantagem competitiva que uma empresa pode possuir é uma visão de futuro.”

Gary Hamel, estrategista inglês
Isso se dá tanto do ponto de vista organizacional quanto pessoal. Sem a especulação organizada sobre o futuro geral (que é, em última análise, insondável por natureza) diminui muito a capacidade de organizar (planejar) o nosso futuro particular e, mesmo, como explicita o leitor Luiz Vieira, diminuir, com isso, a ansiedade natural provocada pela incerteza em relação a esse futuro. Ler análises bem feitas sobre o futuro, ainda que distante, ajuda bastante a alargar os horizontes e a pensar “fora da caixa” (para usar uma expressão da moda), melhorando as chances de fazer escolhas mais consequentes.