O exemplo que vem do Japão


A tragédia que atingiu o Japão há pouco mais de quatro meses — provocada por uma improvável combinação de terremoto e tsunami seguida de um vazamento na usina de Fukushima — causou milhares de mortes e centenas de bilhões de dólares em prejuízos, além de colocar em xeque a utilização da energia nuclear em todo o mundo. Em meio às notícias da catástrofe, o mundo ocidental acompanhou com perplexidade, também, a forma como os japoneses reagiram ao acidente. Em um cenário de destruição, com racionamento de água, comida e cidades à beira do colapso, as imagens dos japoneses aparentando calma, organização e senso de civilidade causaram espanto e admiração.
Para lidar com o racionamento, filas disciplinadas para receber água e comida. Não houve notícias de saques a supermercados, nem corrida para estocar alimentos. As pessoas compravam apenas o que necessitavam para o momento, pois assim não faltariam produtos de primeira necessidade para ninguém. Há registros de restaurantes que cortaram seus preços pela metade e caixas eletrônicos que seguiram funcionando sem qualquer tipo de vigilância.
Nos abrigos improvisados, nada de desordem ou desespero. Não houve buzinaço, nem caos no trânsito nas cidades. A população compreendeu a gravidade do momento e passou os primeiros dias em casa, mesmo em metrópoles como Tóquio. Sem falar nos exemplos de sacrifício, como os cinquenta trabalhadores de Fukushima que ficaram na usina nos primeiros dias, tentando bombear a água do mar para esfriar os reatores.
O comportamento da população evitou que a situação, já bastante grave, evoluísse para o caos nas cidades atingidas e foi determinante para que o País pudesse retomar mais rapidamente sua rotina e normalidade. O que se viu, em toda a parte, foram demonstrações de civilidade, resultado de séculos de educação, princípios e valores sólidos.
Vale a reflexão de como a capacidade do povo japonês de exercer a Cidadania — obedecendo a normas, respeitando o próximo e pensando coletivamente, mesmo em uma situação de crise extrema — está diretamente ligada à capacidade de reconstrução do País. Fica, para nós brasileiros, como uma das principais lições desta catástrofe, a esperança de agirmos de forma semelhante se perseguirmos de modo intenso o investimento em educação, a disseminação de princípios éticos e o desenvolvimento da cidadania responsável. Não veremos os resultados de imediato, mas decerto as futuras gerações verão.