A crise de hoje é a piada de amanhã


por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
A conclusão a que chego é que testemunhamos a sexta grave crise do presidencialismo brasileiro desde a República Nova em 1930.
Como faço todo final de ano no lan çamento da Agenda TGI um balanço do período anual passado e exponho projeções para o período anual futuro, muita gente, os clientes em especial, me perguntam até onde a crise atual vai nos levar. Na tentativa de responder uma pergunta tão difícil tenho me valido da prática cotidiana de projeção de cenários para o planejamento estratégico, além dos quase 40 anos de observação atenta da conjuntura política e econômica do País. A conclusão a que chego é que estamos testemunhando a sexta grave crise do presidencialismo brasileiro desde a República Nova em 1930.
Essas crises graves acontecem quando o presidente fica encurralado no cargo por impasses políticas críticos. A primeira delas resultou no suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Na segunda, Jânio Quadros renunciou em 1961. Na terceira, João Goulart foi obrigado a aceitar a mudança do regime de governo (a troca do presidencialismo pelo parlamentarismo de 1961 a 1963). Na quarta, um golpe militar depôs João Goulart em 1964. Na quinta, Fernando Collor sofreu o impeachment em 1992.
Agora, diante da necessidade de um forte ajuste fiscal que afetará, inevitavelmente, a atividade econômica e gerará desemprego, a presidente ainda enfrenta uma inflação alta que corrói o poder aquisitivo da população e exacerba o seu mau humor reforçado pela irritação com um discurso de campanha que ficou demasiado contraditório com as medidas econômicas duras tomadas no início do mandato. Como se não bastasse, a operação Lava Jato fornece quase diariamente manchetes que terminam atingindo o governo de frente. Para completar, o Congresso, comandado pelo “aliado” PMDB, opera em confronto direto com a chefe do Poder Executivo e seu partido. Uma quase “tempestade perfeita” político-econômico-institucional cujos componentes se reforçam mutuamente potencializando perigosamente seu imprevisível desenlace.
Se não dá para prever, como cidadão torço para que o ajuste seja feito logo, a economia volte a crescer, a inflação seja controlada e o desfecho político não seja extremado. Se tenho uma certeza é a de que, como antes, o País não vai se acabar e mais cedo ou mais tarde volta à normalidade. H.G. Wells, historiador inglês disse que “a crise de hoje é a piada de amanhã”. Vamos trabalhar bastante para ajudá-la a passar e poder rir dela num futuro próximo.
*Artigo publicado na edição 109 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br)