Os mais recentes episódios entre traficantes e polícia no Rio de Janeiro reforçam o sentimento de que tem alguma coisa muito errada na forma como se está enfrentado o crime organizado
Depois de dar um show de organização e estratégia na conquista da escolha para sede das Olimpíadas de 2016, o Rio de Janeiro se vê mais uma vez refém de uma conflagração que mistura guerra de facções criminosas, atuação desastrada das polícias e terrorismo social. Uma pergunta que não quer calar: porque toda a competência demonstrada na conquista olímpica não é capaz de encaminhar a resolução do grave problema da segurança?
“Rio de Janeiro conquistou o direito a sediar os 31º Jogos Olímpicos em 2016 porque demonstrou competência na sua preparação. Todos os passos, planos e falas foram construídos com muito planejamento, cuidado e gestão de riscos.”
Walther Krause, presidente do PMI/RJ
O mundo que observou admirado poucos dias atrás a conquista da sede dos Jogos Olímpicos pelo Rio, agora vê espantado a queda de um helicóptero da polícia e duas dezenas de mortes, além da movimentação da polícia com o sentimento de que talvez o Comitê Olímpico Internacional tenha feito em Copenhague uma escolha errada. Afinal, pensam todos aqueles que têm um mínimo de informação: como pode um país violento como o Brasil sediar uma Olimpíada?
“O fato que ocorreu na madrugada deste sábado já tomou conta dos principais jornais mundiais, e destacam a falta de segurança que o Brasil ainda sofre.”
Site Acemprol
Mesmo o carioca que é gozador e gosta de fazer piada com tudo, paralisa-se diante de tanta violência. Nota-se uma exaustão da sociedade e um sentimento generalizado de não saber o que fazer. Até o discurso triunfalista das autoridades que foram e voltaram da Dinamarca perde o sentido. A impressão que os habitantes da cidade manifestam é da deflagração de uma espécie de guerra civil sem remédio. De fato, não se pode escapar da sensação de que há alguma coisa muito errada.
“Alguém poderia dizer que a Olimpíada no Rio já começou. Pela prova de tiro ao alvo. Mas não há, diante dessas cenas, espaço para gracejos, tampouco para o discurso triunfalista de duas semanas atrás. Se isso não for guerra civil, qual é o nome?”
Fernando de Barros e Silva, Folha de S. Paulo,19.10.09
Alguma coisa muito errada na forma com está sendo tratada a questão do combate à violência que passa, necessariamente, no caso do Rio de Janeiro, pela política de combate ao tráfico de drogas. A esse respeito, inclusive, já está em curso uma discussão sobre o assunto que envolve, inclusive, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Nos EUA depois de 30 anos da chamada guerra contra as drogas e depois de gastos bilhões de dólares (que não temos) se diz que as drogas estão mais puras, mais acessíveis e mais baratas. Ou seja, a política de guerra às drogas é uma política falida. Nós precisamos, sem hipocrisia, com muita honestidade, discutir com a sociedade que política nós queremos.”
Julita Lemgruber, GloboNews, 18.10.09
Seja como for, o assunto precisa ser tratado com seriedade e com muita criatividade porque se o que aconteceu sábado tivesse acontecido há duas semanas, com certeza o Rio teria perdido a Olimpíada.